Beatriz de Lima Abrahão, Cibele Martins Almeida de Oliveira, Joice Pavek Figueiró, José Carlos Monteiro da Conceição, Ricardo Kuchenbecker, Valmira Félix de Mello
Direção Executiva

Nosso querido João XXIII completa em 2024 seis décadas de existência. Não é pouco tempo, nem pequena sua contribuição. Há, no mínimo, duas grandes vertentes constituidoras deste Colégio. Por um lado, a definição e execução do projeto educacional. Por outro, a relação com a comunidade de famílias, estudantes e profissionais que atuam na Escola.

O conhecimento acumulado até hoje necessariamente foi obra de uma relação ação-pensar e pensar-ação. Nosso saber não é fruto de vontades, desejos surgidos “ao acaso”. Seja para tratar de problemas, seja para observar o que acontece, fomos encontrando soluções, acumulando saberes, métodos e regramentos. Assim, seguiu a roda nos tempos.

Para o João XXIII, desde sua fundação, uma das premissas é de que o processo educacional não é uma simples transmissão de saber e cânones. Pela própria história da humanidade, a educação é um processo, logo, há inter-relações de trocas entre “mestre” e “aluno”, e não uma linha de passagem. Além disto, é obrigatório observar os processos históricos, conjunturais e sociais em que estamos envolvidos. Se é para o mundo que se prepara, precisa-se conhecer o mundo. Mais do que conhecer, dialogar com este.

Se isto se dá no plano pedagógico, não há como não envolver as famílias como construtoras deste processo. Por isto, este Colégio foi uma escola criada sob o preceito de comunidade, mesmo que a legislação não contemplasse este modelo de organização. A Fundação que é responsável pelo Colégio surge desta definição, como escola comunitária. É necessário reafirmar que esta Escola sempre tratou a independência e preponderância de seu Projeto Político Pedagógico, construído pelos seus profissionais.

Posto isto, temos um Colégio que propõe um permanente e necessário diálogo com a vida que acontece, com o mundo em que vivemos, e, além disto, estruturado na relação com o ambiente social, dialógico e participativo. Todos(as) são partícipes e responsáveis por esta construção, fruto das duas vertentes do projeto João XIII, acima referidas.

A partir de um entendimento propositivo sobre a linha pedagógica, sempre houve a necessidade de construir um processo formativo para seus profissionais. Se o conceito é de relação/atualização com o ambiente social, esta formação não é uma passagem de modelo, pelo contrário, investe em estimular e construir este conceito, de abertura e integração necessárias.

“Tudo é troca, o verde, a banana e a água do rio tranquila”.

Giba Giba

Em Lugarejo, Giba Giba, que nos resgatou o Sopapo, tambor típico de escravizados, nos traz uma relação de vida em que as conquistas são coletivas.

Os processos de formação assim devem ser: têm suas origens, formulações e sustentações, mas seus produtos devem servir ao conjunto social. O Colégio João XXIII sempre primou por constituir processos formativos. Independente do nome, Serviço ou Centro de Treinamento (Setrein/Cetrein), denominações do Centro de Formação criado na Escola, faz parte de sua história esta política formativa propor debates, questionamentos e elaborações sobre o processo educacional, isto é, ser fiel ao elemento fundador do Colégio. Não se trata de uma postura impositiva de modelo, mas, pelo contrário, de estimular e dar espaços à construção de projeto.

Do ponto de vista externo, seria a clássica apropriação exclusiva não disponibilizar ao ambiente social e público estes acúmulos. Diferente disto, sempre houve o esforço em partilhar as contribuições advindas desta rica integração.

Por fim, cabe registrar a característica orgânica de um processo de formação desenvolvido no João XXIII. Há modelos que impõem propósitos formativos. Pela natureza sócio-histórica do Colégio, este não é o nosso caminho. Se nos pautamos pela relação com o mundo em que vivemos, a formação não pode seguir outro caminho. Assim, este é um projeto que bebe, alimenta-se do que acontece no cotidiano da Escola em todos seus espa- ços. E isto não só impacta como atua na pauta de formação que é construída. Isto é o João XXIII.

Assim, o Colégio João XXIII consegue em ambientes desafiadores, como as disputas no ambiente moral e ético em que vivemos, apresentar alternativas integradoras e enfrentadoras às dificuldades de construção de cidadania emancipatória e autônoma.

Lugarejo se propõe como um instrumento de circulação de formulações, análises e, principalmente, experiências do ambiente escolar. Tudo isso, para o João XXIII, é formação e tem que ser colocada no debate público. A sociedade cresce quando se conversa, debate e reflete.

“Um marinheiro me contou / que a boa brisa lhe soprou / que vem aí um bom tempo”, já nos anuncia Chico Buarque. Bonita escrita sobre o que vêm, o que chega.

Ao completar 60 anos, com a retomada do Núcleo de Formação, estamos recuperando um processo histórico do Colégio, que permite pensar que novos tempos virão.

Bons tempos. Longa vida ao João XXIII.